*Por Thiago Augusto Pestana da Costa
Com intenção de trocar a História tradicional e sua narrativa de guerras,
e dentre outros assuntos, uma ênfase política, surge a História problema que
rompe o desfile de datas e nomes maçantes visando ao avanço acadêmico, abrindo
o diálogo com todas as demais disciplinas humanísticas, na formação da escola
historiográfica francesa inaugurada com a fundação da revista dos Annales,
criada em 1929 por Lucien Febvre, um historiador modernista, com afeição por Geografia
histórica, e o historiador medievalista Marc Bloch, que se identificava com a
Sociologia bastante influenciado por Émile Durkheim.
A sensibilidade e a rigidez metodológica não se opõem, misturam-se na
construção de um trono onde a majestade História toma posse para reinar na
interdisciplinaridade com magnitude e louvor. Estava formada a primeira geração
dos Annales.
No pós-guerra, o historiador Fernand Braudel assume a liderança do movimento,
o que marca a denominada segunda geração dos Annales. Com a morte de Bloch e
Febvre, Braudel assume a direção da revista, e manteve em linhas gerais as concepções de
História dos fundadores, almejando a construção de uma História total, além de manifestar profundo interesse pela
geo-história, campo no qual desenvolveu sua tese “O Mediterrâneo de Felipe II”,
obra manuscrita de memória, no período em que esteve preso durante a guerra.
Braudel também fez cravar seu nome na historiografia mundial com sua sistematização
das diferentes temporalidades do tempo histórico: a curta, média e longa
duração. Muitos estudantes e pesquisadores foram influenciados por Braudel, que
recrutava novos talentos historiográficos que formariam a terceira geração dos
Annales, a exemplo do medievalista Jacques Le Goff, de Marc Ferro e Pierre
Nora, além do destacado Le Roy Ladurie que sucedera Braudel no Collège de
France. A terceira geração fez desenvolver a perspectiva da micro-história, com
o clássico “Montaillou” de Le Roy Laduerie, e também trabalhava a História quantitativa, com Ernest
Labrousse e outros economistas, que abrem janelas para marxismo dialogar com os
trabalhos dos Annales.
Um grande marco desta geração é a conquista do espaço das mulheres na
História, como demonstram dos trabalhos de Klapish, Farge, Michèlle Perrot, esta última, escreve sobre a história do trabalho e
juntamente com Georges Duby organiza
obra de cinco volumes sobre a história da mulheres no Ocidente. Philippe Áries
chama a atenção do público com sua história da infância, na perspectiva da
história cultural e do cotidiano, Foucault redireciona a política para a
micro-política.
Na virada do século, emerge a Nova História Cultural, e com ela torna-se
patente a influência da Antropologia no trabalho do historiador, sobretudo o
olhar para o passado como o “outro”, e a problematização teórica em torno nas
noções de cultura.
Desde Braudel, a História vem
ostentado o título de rainha das disciplinas, envolve-se em uma filosofia
contemporânea, pós-moderna e decorrente crítica ao Iluminismo. Cultura é
linguagem. O método de Geertz, a descrição densa; Bakhtin, e a teoria da
cultura visual; Norbert Elias, e a civilização como arte da vida cotidiana;
Foucault, e noção de estrutura micro-física do poder, e não mais apenas o poder ligado ao Estado e à economia; Pierre Bourdieu,
a noção de “habitus” como esquemas de pensamento e ação adquiridos em um campo
específico onde o sujeito está inserido; Michel de Certeau e sua contribuição
para as “teorias da recepção”, que estudam as diferentes reações do que foi
assistido ou lido, não mais algo visto
como uma operação passiva, e sim ativa.
A velha ideia de uma História total
impulsiona a Nova História, pelo engajamento nas mais diversas teorias, o que
ocasionou certo risco de fragmentação. O historiador vai ao passado com a visão
e os recursos contemporâneos para fortalecer suas raízes e preservar a sua
integridade, sua majestade.
*Thiago Augusto Pestana da Costa
é estudante do 2º semestre de História, esse texto foi redigido como forma de
avaliação final da disciplina Estudos Históricos, do 1º semestre de 2013.
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